Apostas de estrangeiros contra real renovam recordes em meio a temores com política fiscal

Economia

Montante movimentado em contratos alcançou US$ 78,9 bilhões na terça-feira (18)

Estrangeiros que operam no Brasil nunca estiveram tão cautelosos com a perspectiva de enfraquecimento da moeda brasileira. Dados mostram que o montante movimentado em contratos que geram lucro em caso de desvalorização do real ou protegem contra a variação do dólar alcançou US$ 78,9 bilhões na terça-feira (18).

As máximas históricas que vem sendo observadas desde o início de junho e reflete a busca por proteção, ou “hedge” – no jargão do mercado financeiro – por parte dos agentes externos.

O aumento vertiginoso da posição ocorre, sobretudo, na esteira da piora da percepção de risco com a economia doméstica, onde a questão fiscal preocupa o mercado.

A posição mais cautelosa começa sua trajetória crescente em abril, no mesmo período em que o governo federal anunciou mudanças na meta fiscal para 2024. O movimento fica claro no gráfico a seguir, que mostra a posição desses investidores em instrumentos cambiais negociados na bolsa.

O levantamento foi feito pela Warren, com base em dados da B3.

Antes, o objetivo era o de zerar o déficit fiscal este ano, mas, com a mudança, agora o país deve encerrar 2024 com um déficit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Outro ponto que marca o movimento é visto em maio, quando o Banco Central (BC) anunciou uma nova redução da taxa básica de juros, mas em uma reunião sem unanimidade, o que provocou receio com relação à credibilidade da autoridade monetária.

Somado a isso, as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre obter crescimento econômico através do aumento da arrecadação e da redução dos juros, além das fortes críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, pioraram o desconforto do investidor estrangeiro.

Rodrigo Moliterno, estrategista-chefe de renda variável da Veedha Investimentos, corrobora para a leitura de que o cenário segue incerto para a economia brasileira.

“Na medida que o cenário fica um pouco mais conturbado, principalmente o fiscal, isso reflete no estrangeiro ir buscar algum tipo de segurança, e junto vem a parte especulativa”, disse.

Por outro lado, é importante lembrar que a posição dos investidores pode indicar dois tipos de “apostas”. De um lado, existem aqueles que adotam essa posição vislumbrando uma moeda americana mais alta no futuro, o que geraria um lucro. Na outra ponta, tem quem adote a estratégia para se proteger contra a valorização da divisa americana.

“Para toda posição especulativa de players, você não sabe qual a é a estratégia final da operação. Sabemos que o saldo é comprador, que estão comprando dólares. É um cenário de fuga, ou seja, corrida para proteção. Digo isso, porque o investidor pode comprar dólares e ajustar essa compra com posição que ele tem em real aqui”, explica o CEO Eleven Financial, Raphael Figueredo.

Emergentes
Os especialistas destacam ainda que há fatores externos que justificam esse movimento de proteção, comum a outros países emergentes da América Latina.

“Houve um aumento relevante de redução de alocação em mercados emergentes. Aconteceu com o México, o peso mexicano foi o que mais sofreu. Internamente, são esses ruídos fiscais e a divisão que houve em maio na reunião de politica monetária [do Copom]”, explica Sergio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena.

No caso do México, o mau-humor veio após o partido da presidente eleita, Claudia Sheinbaum, sinalizar um plano para reformas constitucionais que podem seguir uma linha considerada menos ortodoxa por parte do mercado. Esse movimento gerou um aumento da percepção de risco do país, desvalorizou o peso mexicano e contaminou as demais moedas emergentes.

No cenário de menor alocação de recursos nos países emergentes, principalmente latino-americanos, o real é a terceira moeda que mais se desvalorizou nos últimos 30 dias (-3,98%).

A moeda nacional teve um desempenho pior que o peso argentino. A moeda do país vizinho registrou perdas de 3,20%.

O peso mexicano lidera a lista, dado o aumento do risco observado no país após as eleições presidenciais. Nesse período, a moeda por lá registrou uma queda de 6,75%. Em segundo lugar aparece o peso colombiano, com desvalorização de 5,87%.

Fonte: CNN Brasil

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